Prototipagem #4

 


Nesta entrada, partilho convosco o protótipo inicial do vídeo-trailer que pretendo utilizar na instalação. Como este não é o ponto central da instalação, penso em utiliza-lo como uma camada extra, tendo em vista que o objetivo da instalação é despertar o gatilho no público sobre os discursos de ódio e a memória dos imigrantes brasileiros em Portugal. A partir disso, convidar o espectador a interagir com a instalação nas rede sociais, onde poderá ter acesso aos conteúdos produzidos a partir da recolha das narrativas.

O vídeo começa, portanto, de forma mais contida, com imagens suaves e uma leve música de fundo, apresentado uma certa aura de inocência, tranquilidade, calmaria. Ã€ medida que os discursos de ódio começam a surgir, as imagens começam a se fragmentar. O áudio vai ganhando volume e os ruídos vão se misturando. Quando os discursos de ódio atingem o auge, as imagens já estão completamente desintegradas, quase irreconhecíveis, e o áudio se transforma em um caos, com sobreposição de audios e palavras distorcidas, refletindo o apogeu do pânico e da desordem gerados pelos discursos de ódio.

As imagens que pretendo utilizar serão, na verdade, uma mescla de depoimentos e imagens de arquivo. Portanto, usarei fragmentos de entrevistas e imagens de uma maneira dissonante pode reforçar a ideia de que esses discursos estão desintegrando a sociedade, na medida que os discursos de ódios passam a atuar sobre essas identidades. Como aqui se trata de um protótipo, utilizo vídeos de bancos de arquivo apenas como representação. 



Como trilha, optei por utilizar a canção "Lacrimosa" (de Mozart), a qual acredito que pode estimular uma atmosfera pesada, melancólica e até apocalíptica, contrastando com a violência dos discursos de ódio que vão surgindo ao fundo. A intensidade da canção, à medida que os discursos de ódio ficam mais fortes e agressivos, parece provocar uma tensão crescente no espectador, criando uma sensação de claustrofobia, como se a música estivesse se tornando uma espécie de pano de fundo emocional. Uma sensação de opressão. 

A escolha dos áudios aqui sobrepostos com as imagens são áudios extraídos de vídeos reais, que circulam na internet. O que fiz foi fazer um processo de curadoria, aleatória, sem critério específico. É importante ressaltar que aqui, do meu ponto de vista, não está em discussão o contexto por trás do vídeo. Ou seja, se há alguém certo ou errado na história. Discursos xenófobos são represáveis, independente do contexto em que se originaram. 

A estética de desfragmentação e distorções visuais com efeitos como pixelização, blur e ruídos Ã© uma forma poderosa de representar a esquizofrenia e o pânico. As distorções visuais são materializadas aqui com o uso de efeitos glitchs ou falhas de pixels, sinalizando a "ruptura" no ambiente, utilizados no CapCut.  A ideia de utilizar esses efeitos é pensar como podem simbolizar que os discursos de ódio estão "quebrando" a percepção da realidade e afetando a psique do espectador. Conforme o vídeo avança e os áudios se intensificam, essas distorções podem se tornar cada vez mais extremas, mostrando uma progressiva deterioração da comunicação e da mente.

O final pode ser deixado aberto ou com uma sensação de desesperança, sem uma resolução clara, pois isso refletiria a natureza contínua e persistente desses discursos. A ideia é que o visitante da exposição possa ir até o Instagram ou no sítio web do projeto (ainda a ser considerado nesta altura do doutoramento), para ter acesso na íntegra aos depoimentos dos imigrantes. No Instagram isso tem uma força maior, pois pretendo trabalhar com os conceitos do artivismo digital dentro da rede. 

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