A partir do meu post inicial intitulado "Para pensar a ascensão dos discursos de ódio entre brasileiros e portugueses", desenvolvo aqui três aspectos os quais gostaria de desenvolver melhor na construção do meu artefato digital como também ao longo do desenvolvimento da minha tese:
1. Potencial crítico da média-arte na construção de uma literacia da memória
A partir do meu processo de reflexão e de desenvolvimento de competências e habilidades no campo da média-arte digital, tenho pensando como estimular uma rememoração produtiva, atuando na construção de uma literacia da memória. Ao revisitar o passado, não apenas sob uma perspectiva arquivística a partir de um repositório de imagens ou fatos, mas como um espaço de reinterpretação e reinvenção, a intervenção da média-arte parece propiciar novas formas de entender o passado e de projetar o futuro.
Utilizando a interatividade e da experiência sensorial proporcionada pelas tecnologias digitais, avalio que é possível ampliarmos a compreensão do presente e suas relações com o passado. Em uma era em que as redes sociais e outras plataformas digitais atuam na proliferação de discursos de ódio e da estigmatização acerca dos imigrantes brasileiros, a memória torna-se um campo de disputa, onde os valores da inclusão, diversidade e respeito são constantemente defendidos e reafirmados. Nesse processo, a capacidade de rememorar de forma produtiva adquire uma dimensão política e social.
Nesse processo, estimo que pensar o campo da média-arte torna-se essencial para questionar as narrativas dominantes e para dar voz a histórias marginalizadas e que vão influir neste processo de compreensão crítica sobre a memória que constituímos no âmbito digital em torno da comunidade imigrante.
2. Narrativas marginalizadas a partir da perspectiva do digital storytelling
O digital storytelling surge como uma vertente no campo da arte de conta história para dar voz a narrativas marginalizadas, especialmente aquelas de grupos que historicamente foram excluídos ou distorcidos nos discursos dominantes. Ao combinar a arte de contar histórias com a flexibilidade da tecnologia digital, o digital storytelling permite que indivíduos ou comunidades compartilhem suas experiências de maneira autêntica e direta, sem a mediação dos meios tradicionais de comunicação. Essa forma de narrativa digital dá visibilidade a perspectivas frequentemente silenciadas, como as dos imigrantes, minorias raciais, ou grupos marginalizados por sua classe social ou origem geográfica. A interatividade das plataformas digitais, como vídeos, blogs, podcasts e redes sociais, oferece um campo fértil para que essas histórias sejam recontadas de maneira participativa e colaborativa, criando um espaço em que a memória do coletivo possa ser reconstruída a partir da base.
Ao aplicar o digital storytelling para contar as histórias de imigrantes ou outros grupos marginalizados, o processo de narração se torna um exercício de empoderamento, permitindo que essas vozes sejam ouvidas de uma forma mais visceral e impactante. O uso de multimídia, como vídeos, imagens e áudios, permite que as emoções, contextos e nuances dessas experiências sejam mais bem capturados, criando uma conexão emocional entre os narradores e os públicos. Além disso, o digital storytelling pode proporcionar uma reflexão mais crítica sobre como as narrativas dominantes foram construídas, destacando as lacunas e distorções nas representações culturais e sociais. Nesse sentido, o digital storytelling não só dá voz aos marginalizados, mas também desafia a audiência a reconsiderar as versões oficiais da história, abrindo espaço para um entendimento mais plural e empático das experiências humanas.
3. Combinação da instalação + comunicação transmídia
Ao meu ver, a combinação de performances e instalações artísticas, combinada com estratégias de comunicação transmídia, por exemplo, parece-me ser um fulcral neste processo de sensibilização do público, convidando-os a participar dessa experiência imersiva provocada pelo artefato digital. Assim, as instalações digitais podem oferecer uma experiência coesa, onde diferentes formas de mídia – como vídeos, áudio, texto e até elementos interativos – trabalham juntas e de maneira integrada para reforçar uma narrativa ou mensagem central.
O que busco pensar é a criação de um circuito comunicacional, na qual presumo que o movimento de reflexão a ser alcançando se estende por diferentes plataformas, alcançando públicos variados, de distintas maneiras. Por exemplo, a utilização de redes sociais, a criação de um website, e até aplicativos móveis em paralelo com o próprio artefato ou da própria instalação virtual pode expandir a experiência, permitindo que os espectadores explorem os conteúdos produzidos e que se envolvam com a narrativa em distintos pontos de contato. A combinação de elementos atrela-se ao primeiro aspecto que discuto neste texto, pensando na capacidade crítica e no desenvolvimento das competências midiáticas do público, para educar e estimular um pensamento crítico e uma rememoração produtiva.

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