Neste momento inicial do meu percurso académico no Doutoramento em Média-Arte Digital, vejo que as minhas expectativas estão fortemente ancoradas na construção de artefato, no qual visa não apenas explorar o potencial da arte digital como uma forma de expressão, mas também na busca por um ativismo, um engajamento cÃvico que está diretamente ligada à imigração da comunidade brasileira em Portugal e a construção da memória coletiva. Dentro dessas minhas indagações iniciais, presumo que a maior problemática está no campo da cultura digital, tendo em vista a rápida ascensão dos discursos de ódio nas plataformas digitais e, sobretudo, dada à facilidade que esses espaços estimulam e amplificam na propagação de ideologias extremistas e xenofóbicas.
Penso que a natureza dinâmica das redes sociais, ainda que consideremos seus efeitos positivos para promover uma mudança social, corrobora também para a disseminação de desinformação, estereótipos e narrativas descontextualizadas, frequentemente dirigidas a grupos marginalizados, como os imigrantes. Nesse contexto, a velocidade com que as informações são compartilhadas e recontextualizadas contribui para uma escalada de polarização, tornando o espaço digital um terreno fértil para a construção de divisões e preconceitos sociais e, sobretudo, para a marginalização da memória coletiva. A facilidade com que qualquer usuário pode produzir, disseminar e reforçar mensagens de ódio torna esses discursos mais visÃveis.
Com isso, as minhas expectativas dentro do DMAD está em compreender como o campo da média-arte pode me auxiliar nesse esforço de combater narrativas e, principalmente, como o campo da memória, a partir da perspectiva sociológica, pode ser pensada nessa convergência de meios e ferramentas tecnológicas que se colocam a disposição. Assim, inicialmente, o meu projeto de tese consiste em desenvolver um museu virtual voltado à memória dos imigrantes brasileiros em Portugal surge como uma intervenção crÃtica frente ao aumento da desinformação e aos discursos anti-imigratórios presentes nas plataformas digitais.
A possibilidade de utilizar formas de expressões como videoinstalações, arte digital, combinados com técnicas de storytelling, é um dos aspectos que me entusiasma na construção deste projeto, pois avalio que se trata de uma oportunidade oportunidade excepcional para criar um espaço de memória, que seja subversivo, instigante e que exerça um papel crÃtico. Ao transformar as narrativas dos imigrantes, mobilizando uma série de recursos como imagens, sons, vÃdeos, vejo que posso, neste sentido, estabelecer uma relação de engajamento com o público, criando uma experiência interativa onde cada visitante pode explorar a multiplicidade de facetas da comunidade imigrante brasileira.
Ao longo deste meu percurso no DMAD, busco explorar, portanto, as potencialidades das ferramentas e dos recursos que serão adquiridas neste contato com as disciplinas, propondo uma diálogo de todo esse repertório adquirido com o campo de estudos da memória o qual venho atuando com as práticas de mÃdia digital. A construção do museu virtual, em particular, será uma oportunidade para refletir sobre as questões de identidade, pertencimento e interculturalidade. O meu desejo é provocar uma reflexão crÃtica sobre os discursos de ódio presentes nas redes sociais, ao mesmo tempo em que se busco construir um espaço de rememoração produtiva, que promova o fortalecimento do diálogo entre brasileiros e portugueses.
Acredito que o DMAD, a partir da sua abordagem inter/trans/multidisciplinar, me auxiliará no desenvolvimento tanto da parte artÃstica do projeto quanto no aprofundamento teórico necessário para compreender a relação entre memória, mÃdia e identidade, para a formação de uma consciência mais crÃtica e reflexiva sobre a imigração brasileira em Portugal.

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