Durante as primeiras fases do projeto, minha intenção era clara. Tinha em mente que utilizaria frases reais, memórias e lembranças imigrantes para construir a narrativa dos vídeos. Minha ideia era, portanto, trabalhar com vozes reais por meio de entrevistas e relatos que registrassem experiências pessoais e íntimas, ancoradas na vivência da migração e do pertencimento. Seria uma forma de dar corpo e voz a histórias silenciadas, e de resgatar uma memória coletiva atravessada por deslocamentos.
Mas esbarrei em uma limitação. A autorização do comitê de ética não chegou a tempo. Sem a permissão formal para o uso desses depoimentos, fiquei um pouco receoso de avançar com o projeto e, assim, precisei repensar o conteúdo. Em diálogo com o professor Pedro Pestana, propus novas possibilidades e caminhos alternativos. No final, essa limitação acabou se tornando também uma oportunidade criativa e, aos poucos, essa frustração inicial se transformou em um novo ponto de partida conceitual.
Ajustei o foco. Em vez de trabalhar com registros de relatos de imigrantes sobre o passado, decidi centrar a mensagem na memória do presente. Ou seja, usei o vídeo como uma forma de destacar figuras que precisam ser lembradas agora, no tempo em que ainda atuam, lutam e resistem. Porque, no fim das contas, a memória não compete somente àquilo que já foi vivenciado. Ela também dialoga quem está vivo, quem está lutando agora. Essa mudança de direção me fez perceber que lembrar também é um ato de presença, de reconhecimento, de apoio. Transformei o vídeo, como se fosse uma espécie de homenagem ativa, uma espécie de documento artístico da resistência atual.
Com isso, dei-me conta que a virada forçada pelo contexto ético acabou me levando a um lugar conceitualmente mais potente. Não perdi a ideia de memória, só a ressignifiquei. E essa foi, talvez, uma das correções mais importantes do projeto.
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