Depois de outros testes, ajustes e escutas atentas, cheguei a uma fórmula narrativa e estética que pretendo aplicar nos próximos vídeos do projeto. Realmente, foi um processo de lapidação, em que busquei refinar cada detalhe, não só para manter a força da mensagem, mas também para criar uma coerência estética que dialogue com o conceito maior da instalação.
Em termos de estrutura narrativa, os vídeos agora começam sempre com uma frase de impacto, geralmente extraída de notícias ou documentos públicos que mencionam diretamente políticas imigratórias. Esse primeiro momento é como um “disparo”, no qual busco contextualizar, gerar uma inquietação e preparar o espectador. É uma espécie de corte seco que já introduz o tom de urgência.
Como estou trabalhando com o artivismo em rede, o meu conhecimento em produção de conteúdo para as redes sociais indica que os 3 primeiros segundos de um vídeo são essenciais para capturar a atenção do telespectador.
Em seguida, intercalo cenas do perfil da ativista, vídeos do Instagram, TikTok, registros cotidianos de sua luta política. A justaposição cria como uma espécie uma bricolagem audiovisual que me interessa muito: o que está ali não é apenas uma narrativa biográfica, mas é também uma construção fragmentada da presença dela como ativista, como um corpo político em movimento. Criar essa estrutura me permite dar conta da complexidade que quero transmitir, um corpo em conflito com sistemas de opressão, mas também uma presença combativa, que não recua.
Os efeitos visuais, sobretudo os glitches, foram repensados com base nas críticas dos testes anteriores. Reduzi os exageros, mas mantive interferências suficientes para dar conta da tensão constante que atravessa essas imagens. Como pensava, o glitch, para mim, representa não só desfragmentação, mas pressão. É como se a imagem estivesse à beira de colapsar, o que reforça a ideia de resistência. Ela permanece, mesmo sob ataque. Por isso aparece alguns flashes, uma tremulação nas imagens.
Decidi também incluir legendas, não apenas por uma questão de acessibilidade, mas como recurso estético e político. As palavras ganham presença gráfica. São marcas. São testemunhos. O objetivo é garantir que a fala da ativista não se perca, e que cada palavra dita esteja ali, gravada com peso visual.
A trilha sonora é outro elemento central aqui. Tomei como referência o trabalho desenvolvido para a disciplina de videoarte. Trabalhei com uma composição que cresce aos poucos, de forma emocional, quase como se o som pulsasse junto com as imagens. Em paralelo a isso, incluí mensagens de ódio reais, coletadas da internet. Elas vão crescendo gradativamente e subindo e ganhando intensidade. A ideia é dar um sentido a esse ruído que incomoda, que é desconfortável.
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