Nesta fase do processo a/r/cográfico, começam a se delinear com mais clareza os conceitos-chave a serem explorados no meu artefato de mÃdia-arte digital. O gatilho inicial que tem me auxiliado a pensar na criação deste artefato digital está diretamente relacionado com o crescente fenômeno dos discursos de ódio que se proliferam nas redes sociais, especialmente entre brasileiros e portugueses. O que me incomoda não é apenas a intensidade dessas trocas, mas a facilidade com que a violência verbal se desvia de qualquer forma construtiva de diálogo, criando um abismo cada vez maior entre essas duas nações com laços históricos e culturais profundos. O ambiente digital, ao invés de facilitar o entendimento e a troca, tem se tornado um terreno fértil para a desinformação, estigmatização e polarização das relações. A partir deste contexto, sinto a necessidade urgente de refletir sobre como as redes sociais, enquanto produtos de um sistema digital globalizado, estão alimentando e acelerando o ciclo de ódio, preconceito e intolerância.
Neste contexto, o percurso do doutoramento em média-arte digital tem sido essencial para o amadurecimento da ideia do artefato, proporcionando tanto as ferramentas teóricas quanto práticas necessárias para a exploração crÃtica das questões que envolvem a comunicação digital e os discursos de ódio nas redes sociais. Na senda das disciplinas de narrativas transmÃdia, videoarte e artivismo, em particular, tenho conseguido desenvolver melhor a proposta que quero apresentar.
Sob a perspectiva da narrativa transmÃdia, com sua capacidade de fragmentar e distribuir uma história por diferentes plataformas, penso que tenho uma possibilidade de incorporar uma abordagem distinta, incorporando-se à s linguagens das redes sociais para promover essa crÃtica e pensar, sobretudo, em como as ideologias se espalham e se adaptam ao ecossistema das redes sociais. Já pela perspectiva do artivismo digital, a arte se torna uma ferramenta de intervenção, capaz de subverter os mecanismos de poder e manipulação que prevalecem nas plataformas digitais. A utilização de memes, vÃdeos, posts e até a intervenção direta nas próprias redes sociais não apenas denuncia as injustiças, mas propõe novos caminhos de pensamento e ação.
Agora pensando especificamente no artefato em si, penso que o caráter dinâmico e efêmero da videoarte se revela particularmente adequado não apenas para abordar a fluidez e a volatilidade das discussões que ocorrem nas plataformas sociais, mas também para refletir sobre os desafios enfrentados pelos imigrantes nas redes. Ao abordar questões como o silenciamento, o apagamento e a perda de identidade, estimo que a videoarte oferece a flexibilidade necessária para capturar e expressar a complexidade dessas experiências.
A videoarte, por sua natureza não linear e muitas vezes experimental, permite a manipulação de sÃmbolos, imagens e sons de maneira que vai além da simples representação. Ao utilizar a linguagem das redes sociais, como memes, vÃdeos curtos e outros formatos populares, busco não apenas replicar a estética digital, mas também questionar seus próprios limites e contradições. Na disciplina de videoarte, comecei a esboçar algumas ideias para o projeto final, que me parece ser um ponto de partida para pensar a construção do artefato.

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