O que significa “esquecer”? E o que acontece quando somos forçados a perder as memórias que nos conectam ao passado, à nossa identidade e à nossa história?
Dentro deste meu processo de busca de referencias, inspirações e gatilhos, pensando na criação de uma instalação artística que explora as consequências do discurso de ódio contra imigrantes brasileiros em Portugal, a primeira questão que surgiu em minha mente foi: qual nome poderia capturar a essência do projeto?
O meu processo criativo começa a partir do momento que consigo capturar e enquadrar bem o nome e a estética do projeto. Pensava em algo que pudesse metaforizar o processo de esquecimento imposto a certas histórias e identidades, como aquelas dos imigrantes marginalizados.
Comecei a explorar palavras e conceitos que pudessem encapsular a ideia de esquecimento forçado e perda de memória. A ideia de esquecimento não é apenas um simples ato de deixar algo para trás, mas sim a imposição de um apagamento. Lembrei-me do latim, uma língua que carrega consigo muitas camadas de significado e ressoou diretamente com o conceito central da instalação. Tanto o português europeu quanto o brasileiro têm suas raízes no latim, já que ambos são línguas derivadas do latim vulgar, a variante do latim falada pelas classes populares do Império Romano. Muitas palavras que usamos hoje, como "memória", "identidade", "sociedade", "cultura", entre outras, têm origem no latim.
E foi assim que encontrei em latim a palavra Oblivium, que significa "esquecimento" ou "perda da memória". O nome sugere um estado de esquecimento, e também se conecta com a ideia de algo que é apagado de forma externa, como uma memória coletiva que é silenciada e distorcida.
Mas por que escolher um nome em latim, uma língua que já não é falada no cotidiano? Penso que a resposta esteja na própria simbologia que o latim carrega. Ele é uma língua ancestral, associada ao pensamento filosófico e ao início das construções acadêmicas, mas, ao mesmo tempo, carrega uma certa distância temporal e emocional. Isso é paralelo à maneira como muitas histórias e experiências — como as dos imigrantes marginalizados — são tratadas: algo distante, algo que não se deve lembrar.
A palavra oblivium realmente não tem um equivalente direto no português, o que a torna ainda mais interessante como escolha para o nome do projeto. O ato de obliviar — ou melhor, o que ele representa — vai além do simples "esquecer". É um esquecimento mais profundo, muitas vezes imposto, uma forma de apagamento ativo de memórias, experiências e identidades.

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