De certa forma, isso está ligado à ideia de viralização, o que é comum dentro do contexto das redes sociais. Compreendo que falar de viralização no contexto do meu projeto pode parecer, à primeira vista, uma contradição. Afinal, estou lidando com temas densos, delicados, muitas vezes dolorosos. Mas a verdade é que o desejo de viralizar faz parte da estratégia, se convido o espectador para participar da instalação. Não se trata de banalizar o conteúdo, nem de buscar curtidas vazias. É sobre usar a lógica das redes sociais como uma ferramenta de resistência e visibilidade.
O projeto foi pensado desde o início dentro da lógica do artivismo digital. Publicar vídeos no Instagram, usar o formato de Reels, apostar em collabs e antecipar a divulgação da instalação física nas redes podem ser compreendidos como movimentos estratégicos, mas também poéticos. É uma forma de tentar romper o ruído com mais ruído, de ocupar espaços digitais que, muitas vezes, são hostis aos corpos e narrativas que tento representar.
Para isso, fiz testes com base em pesquisas sobre comportamento e linguagem nas redes. Observei como artistas, ativistas e criadores de conteúdo engajam seus públicos, especialmente quando tratam de temas sensíveis. A partir dessas observações, busquei um ponto de equilíbrio entre a linguagem artística, mais contemplativa e simbólica, e a linguagem direta, dinâmica e imediata das redes. Testei diferentes aberturas, ritmos, durações e efeitos para entender como capturar a atenção sem abrir mão da profundidade da mensagem.
É verdade que, se vai viralizar ou não, não tem como prever. Mas a estrutura está montada com isso em mente. Os vídeos têm impacto visual, começam com frases fortes, trazem trilhas sonoras que crescem e tensionam, e dialogam com acontecimentos reais, contemporâneos. São pensados para gerar reação, para incomodar, sim, mas também para tocar, engajar, compartilhar.
E, se viralizar, não será por acaso. Será porque o conteúdo encontra eco em quem assiste, porque provoca, porque ativa memórias e incômodos. Será, acima de tudo, porque há urgência no que está sendo dito.
Para mim, o artivismo digital é isso: não esperar ser legitimado por espaços tradicionais, mas criar fissuras no sistema com as ferramentas disponíveis. É transformar o feed em território político, o scroll em gesto de denúncia, e o compartilhamento em ato coletivo de resistência. E se, ao final, isso fizer com que mais pessoas cheguem à instalação ou, mais importante ainda, à história das pessoas que irão compor a instalação, então o artefato terá cumprido seu papel.
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